Cynthia EQM
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Descrição da Experiência:

A minha experiência não foi semelhante às histórias usuais de experiências de quase morte. Pouco poderia dizer quanto ao ambiente que me cercava ou quanto à presença de belas luzes; a minha experiência foi diferente das que ouvi ou daquelas que li. Eu estava desarmando uma pistola calibre 22 que tínhamos em casa para nossa proteção. A nossa família sofrera ameaças de um dos namorados de minha filha e a arma estava carregada para a eventualidade de precisarmos dela. Meu marido é motorista de caminhão e raramente encontrava-se em casa. Tinham se passado alguns meses desde que carregara a pistola e eu me esquecera disto. Uma noite, enquanto cuidava da lavagem da roupa, lembrei-me que o carregador ainda estava na arma e pensei em desarmá-la por “medida de precaução”. O carregador não saía facilmente e, então, apontei a pistola em direção ao teto acima do meu ombro esquerdo. Como não conseguia retirar o carregador, pensei, nenhum problema, começo a ejetar as balas da câmara. Lembro que retirei uma, mas a seguinte estava alojada diagonalmente. Usei então o dedo e tentei endireitá-la de modo a poder removê-la. A arma fechou-se violentamente sobre o meu dedo e penso que me movi bruscamente para trás. Ela descarregou sobre o lado esquerdo superior do meu peito, afetando gravemente a artéria braquial e o nervo do plexo braquial. Comecei imediatamente a perder sangue e o meu braço caiu flacidamente ao longo do corpo como se não me pertencesse. Recordo ter pensado que a minha vida estava em perigo. Lembro ter dito: “Oh, Jesus”. Não como um apelo em pânico mas como um pedido de AJUDA. Comecei a sentir-me fria — suponho que o que senti foi hipotermia como me dizem agora — mas de súbito estava sendo acolhida e confortada como uma criança por alguém que pensei ser Jesus. Passei a sentir-me mais aquecida embora, obviamente, o meu corpo estivesse frio ao ponto de tremer e sacudir. Eu contemplava tudo aquilo mas como se estivesse em algum ponto acima de toda a cena. Lembro de partes do incidente como o policial fazendo perguntas, os paramédicos fazendo-me perguntas, minhas filhas chorando, e a visão da minha pequena neta com cerca de um ano nessa época. O mais espetacular sentimento que lembro ter sentido foi a mais maravilhosa sensação de paz plena, uma paz não somente mental, mas profunda em minha alma, em meu espírito.

Desde então, tornei-me mais capaz de aceitar as coisas que não posso mudar e de suportar aquelas que, de outro modo, não suportaria. O único fato que me intriga é que não me sinto ligada às pessoas da família, ao meu marido com quem estou casada há quase 27 anos, às minhas três filhas fruto deste casamento, e a outras pessoas em minha vida que foram a razão da minha existência, e que já não são mais a razão da continuidade da minha vida. Eu agora vivo a minha vida para mim. Ainda amo estas pessoas, mas não me envolvo em conflitos, prefiro a paz e já não sou mais um capacho de porta, sou uma pessoa. Tenho 45 anos de idade e desde então voltei à escola. Não sei o que quero ser quando crescer (ha, ha, ha...) mas sei que gostaria de ajudar outras pessoas em tudo aquilo que esperam que eu faça. Estou apenas a 15 créditos de distância de me graduar e depois disto passarei a frequentar a Universidade da Pensilvânia (A major).

Não sei aonde a vida me levará, é como se existisse um invisível caminho a percorrer, onde a discórdia não faz parte dele. Meu marido e minha família acham que eu deveria permanecer em casa e cuidar dos meus netos — tenho agora três — mas eu estou orientada a obter educação. Possuo uma alegria interior que ninguém compreende e que nem as palavras podem descrever; é muito difícil tentar agora colocar em palavras o poderoso espírito de paz que encontrei. Ainda que pareça que todas as forças na terra estejam a conspirar contra mim, continuo seguindo adiante. Qualquer apreciação disto seria imensamente bem-vinda. Sei que perdi cerca de 5 a 6 unidades de sangue, disseram-me que substituíram a minha artéria braquial por outra de goretex e que recebi grande transfusão de sangue, poderia esse sangue também transferir-me um espírito mais pacífico? Pode parecer irreal ou um tanto estranho mas desde o acidente, quando me vi tal como um bebê recem-nascido confortado por sua mãe, com uma sensação de calor a percorrer todo o meu corpo, a minha mente e a alma não voltaram a ser as mesmas.... Sinto-me intrigada e, de certo modo, cheia de júbilo. Obrigada por ouvir-me e, de novo, apreciaria com gratidão qualquer contribuição ou apreciação disto ... tudo que sei é que um dos médicos disse que minha vida estava pendurada pela espessura de um pedaço de papel, e eu agradeço todos os dias a Deus por isso.

Não me incomodo de postar isto de forma anônima, mas até alcançar uma melhor compreensão da minha experiência preferiria que se mantivesse assim. Acredito que você possa compreender isto. O meu acidente permanece vívido como se tivesse ocorrido ontem, embora tenha acontecido há quatro anos, em 1995. Sinto-me mais à vontade com estas coisas e mais distante ao mesmo tempo. Eu adoro rir e fazer os outros sorrirem, adoro ver as crianças brincarem, as flores desabrocharem e ver o nascer e o pôr do sol. Tantas coisas, incluindo as cores, parecem mais vívidas, mais importantes e menos frívolas do que antes. Tenho mais consciência dos sentimentos alheios e posso, por vezes, quase sentir as suas dores, emocionais mais do que físicas, mas sou ainda uma criança tentando encontrar este novo caminho de um destino que não compreendo totalmente. À medida que os dias passam, tenho o sentimento da perda de tempo, tempo que poderia ser usado para realizar mais. Não sei ainda o que está guardado para mim mas estou desejosa de descobrir.