Descrição da Experiência:

Os meus pais eram religiosos e frequentavam a igreja semanalmente. Eu possuía uma fé profunda e permanente em Deus, e extraía a força e a luz desta crença quando todo o resto falhava. Esta fé fortaleceu-se ainda mais quando o seguinte relato, não imaginado mas fruto de uma experiência verdadeira, ocorreu. Não foi simplesmente uma experiência decorrente de o cérebro atravessar um processo de "colapso" na morte. Assim como cada um conhece a diferença entre o estado de sonho e o estado acordado, sabe-se igualmente a diferença entre o estado de sonho e o estado causado por uma EQM (Experiência de Quase Morte). Foi doloroso descrever esta EQM pois esta lembrança foi, e continua a ser, muito vívida. Na altura em que relatei a EQM para minha mãe e para minha madrinha Lynn Arendt, elas rejeitaram-na como sendo simplesmente um sonho. Relatos de EQM não eram amplamente publicados nessa época e eu, quando criança, nunca ouvira narrativas de EQM.

Em Outubro de 1978, caí de cama em estado quase inconsciente; o meu coração havia parado. Repentinamente, senti que era tragado velozmente através de total escuridão para a entrada de um túnel turbulento, as suas paredes refletindo a cor azul néon que o meu corpo imaterial emitia. Eu ainda possuía todas as minhas faculdades e sentidos. A sensação que tinha era de que os laços que me atavam ao mundo terrestre tinham sido cortados. Um som baixo, constante, tal qual um zumbido, enchia a estreita passagem, e este som provinha não das paredes mas de mim. Para um indivíduo completamente surdo, ouvir este som era algo belo pois trazia consigo o mesmo conforto que a voz de uma mãe transmite a seu filho. De modo bastante estranho, embora eu não tivesse nenhum membro e voasse como um beija-flor, não fiquei assustado. Eu era somente uma luz resplandecente.

Ao relembrar, pois estava em outra dimensão, a conclusão lógica era de que eu não poderia estar na mesma forma. Era como se eu tivesse sido despojado do meu incómodo corpo terrestre, e estivesse na forma natural, livre, que não era humana. Ao prosseguir instintivamente por esse túnel turbulento que se movia em todas as direções, acima, abaixo e lateralmente, tendo como único som o zumbido de minhas asas tal como um beija-flor, uma Luz brilhante no fim desse redemoinho dissipou progressivamente a escuridão do túnel e, igualmente, a luz azul néon que as paredes refletiam.

Ante a visão da Luz, ou seja, o gestaltismo de energia, que despertou em mim sentimentos instintivos impossíveis de descrever em palavras, seres de luz brilhante de membros da família e de amigos falecidos surgiram repentinamente junto à passagem para saudar-me entusiasticamente. As suas personalidades exuberantes transbordaram em seus rostos transparentes e brilhantes de azul néon; a comunicação foi por telepatia. As vozes desincorporadas saudaram-me, despertando minhas emoções pois eu as ouvia como uma pessoa com audição normal, e eu comecei a ver bolhas flutuantes claras nas paredes do túnel escuro o qual ficava cada vez mais brilhante ao me aproximar da Luz branca reluzente junto ao final da passagem. Estas bolhas flutuantes que se moviam entre as paredes do túnel tinham a forma de janelas tridimensionais ou telas "de realidade virtual", e eram instantâneos da minha vida. Mesmo na morte, eu não perdi as minhas memórias e sentimentos.

Ante a visão desta Luz resplandecente de uma beleza indescritível, eu tive uma revelação. Esta Luz não é "Deus" no sentido estrito, de acordo com o significado tradicional das Bíblias de várias religiões, inclusive do Cristianismo. Esta Luz, um gestaltismo de energia, é uma agregação de multidões de almas imortais de todas as progressões da vida, por exemplo, de vegetais, mamíferos, peixes, e é coletivamente uma força-vida. Esta Luz é uma força-vida de onde toda a vida se origina, e não é nem uma entidade única, já que cada alma imortal é parte de"Deus", nem múltiplas entidades, pois que cada alma imortal é somente uma parte da entidade coletiva, isto é, esta Luz é em um sentido amplo um único " Deus" que se senta em um trono no céu que recompensa ou pune almas. Sem esta força-vida, este gestaltismo de energia, não haveria nenhuma vida na terra, ou nenhum planeta habitável no universo. Pergunta-se comummente: “Deus está morto?” Não é egocêntrico crer que o homem ainda se atém a ideia de que foi criado por Deus à sua imagem e semelhança, ainda que o universo possa estar transbordando de vida? Que Deus transmitiu os Mandamentos apenas para o Homem? Aqueles na Terra que estão à procura de “Deus" encontram-se em uma busca vã, porque eles já encontraram " Deus": eles mesmos. As pessoas precisam somente olhar para dentro de si para encontrar um sentido de objetivo ou fé da religião, e por isso veem que há um Deus, isto é, Luz, em um trono no céu que pune ou recompensa almas.

Ao prosseguir o meu caminho quase ao fim do turbulento túnel, em direção à Luz que eu instintivamente sabia ser a minha “pátria” (das Heimatland), ouvi, atrás de mim, uma voz familiar mas desincorporada, chamar o meu nome. Possivelmente era a voz de Brickie, a minha avó materna, que foi um dos rostos transparentes e brilhantes de azul néon que eu vislumbrara. Com muita relutância, tal qual um beija-flor ao manter uma posição estacionária em meio voo, eu parei para saber quem me chamava. Ninguém me parou; ao contrário, eu relutantemente aquiesci em parar. Uma força invisível, na forma de uma sombra, de um modo potente e rápido empurrou-me, através da escuridão embaçada, de volta ao meu corpo. A minha viagem em direção à Luz transcendente foi em movimento lento comparada com a viagem de regresso. À medida que a minha alma introduziu-se em seu corpo terrestre, que não nada mais é do que uma simples luva de encaixe, ele vibrou. Eu fiquei momentaneamente em um estado da confusão ao abrir os olhos.

Embora não saiba qual é o objetivo de minha vida, sei que não posso deixar esta vida até ter concluído o que me está destinado fazer. Suponho que a vida é um processo de aprendizagem, um processo evolutivo para a alma. A minha vida, como a de outros, é uma experiência não só de felicidade, mas de frustração, solidão, decepções, isolamento e sentimentos de inferioridade. Suponho que a Terra possa ser um lugar para a educação de seres de energia leve desorientados. Em consequência desta EQM, tenho um maior gosto pela vida e, também, possuo uma convicção religiosa mais forte. Alguns veem a religião como um mero conjunto de códigos antigos de leis e normas sociais criadas pelo homem para regular a sociedade; contudo, a minha opinião é de que a maior parte das religiões no mundo realmente têm alguns núcleos da verdade, já que compartilham um fio comum. Não tenho nenhum medo da morte, já que a morte é simplesmente uma fase natural da minha passagem de um corpo físico, ainda que incómodo corpo, a um gestaltismo de energia imortal, isto é, uma luz resplandecente. Tenho uma maior consciência da importância da família e dos amigos porque, por meio de esforços altruísticos, as nossas almas se desenvolverão. É através de nossa própria evolução, ou ritos de passagem, que ajudamos outros a se desenvolverem.